Em 1º lugar peço desculpa por só agora actualizar este blog, mas ultimamente a minha vida tem andado uma correria.
Peço desculpa especialmente ao Tiago H., que há + de 1 mês me colocou estas perguntas e só agora ter podido responder.
Bem, aqui ficam então as perguntas que me foram colocadas, através de um comentário ao meu post anterior, e a respectiva resposta (como estas dúvidas de gramática da LGP poderiam também surgir a outros visitantes do blog, decidi fazer um post para as responder, em vez de o fazer também como um comentário):
«Não sei como me arranjei, mas publiquei o meu comentário num post mais abaixo a pensar que era o primeiro:
Olá! Era possivel dares algumas noçoes de gramatica? por exemplo, sei dizer varias palavras, mas como as ligo numa frase? faço os gestos seguidos? Por exemplo, frases simples:
"Que horas são?" - faz-se o gesto "horas" e dps o gesto do verbo "ser" e depois o getso de "pergunta" ?
Ou para dizer: "Estou muito feliz de estar aqui", faz-se os gestos: "verbo estar" + gesto "muito" + gesto "feliz" + gesto "verbo estar" + gesto "aqui".
Já agora, como se sabe que terminou uma ideia e começou outra? Em LG faz-se uma pausa e muda-se a entação de voz, à gestos que servem o mesmo objectivo?
Outra questao n relacionada, existe o equivalente de "sotaque" na LGP? Ou seja, certas formas de fazer gestos que te permitem perceber se aquela pessoa tem o ASL como primeira lingua? (assim como percebemeos pelo sotaque se alguem é ingles ou alemao, por exemplo)
E claro, tb tenho de deixar ficar o meu elogio por esta excelente iniciativa!»
Olá.
A LGP tem a sua própria estrutura frásica, diferente da do português, por isso não se deve gestuar uma frase traduzindo palavra a palavra, tal e qual como esteja escrita em português, pois isso é fazer o que se chama de "português gestual" (gestos de LGP com estrutura frásica do português) e não verdadeiramente Língua Gestual Portuguesa (gestos da LGP com a estrutura frásica própria da LGP).
Para esclarecer a regras gerais de construção frásica da LGP:
No português a estrutura frásica é SVO (sujeito-verbo-objecto). Por ex, na frase "Eu comprei um livro." "eu" é o sujeito, "comprei" é o verbo, "um livro" é o objecto.
Na LGP a estrutura frásica predominante é: SOV (sujeito-objecto-verbo). O verbo aparece no infinitivo e no fim da frase. Por isso a frase que exemplifiquei ficaria "EU + LIVRO + COMPRAR//" Esta é a regra geral, para as frases afirmativas. Nalgumas situações também é aceitável a estrutura OSV (objecto-sujeito-verbo).
Para se realizar uma frase na negativa, dependendo da frase em específico, pode-se ou acrescentar o gesto /NÃO/ no fim da frase neutra; ou realizar-se simultaneamente a frase neutra e o movimento natural (da cabeça) referente a /NÃO/;
Para se realizar uma frase interrogativa pode utilizar-se um pronome interrogativo como “quando” ou “quem”, por ex, que frequentemente aparece em final de frase (ao contrário do português). Mesmo com o pronome interrogativo, a expressão facial interrogativa é muito importante.
A 2ª possibilidade da construção de uma frase interrogativa pode realizar-se através da frase afirmativa com a expressão interrogativa ao longo da frase. (esta situação também é válida para a construção de frases exclamativas – com a utilização da respectiva expressão facial exclamativa ao logo de toda a frase).
Outras questões gramaticais da LGP:
Quanto à concordância de género, número e marcação de tempo verbal:
A concordância do género:
Nos seres humanos:
Marca-se por um gesto diferente: por exemplo, no par /PAI/ e /MÃE/; ou
Marca-se o feminino por prefixação (Ex. /IRMÃO/ e/IRMÃ/);
Nos seres animados não humanos:
Marca-se por um gesto diferente (ex. /CARNEIRO/ e /OVELHA/); ou
Marca-se o feminino por prefixação (ex. /CÃO/ e /CADELA/); ou
Marca-se por sufixação (ex. /CABRA/ e /BODE/);
Os seres inanimados não apresentam marcação de género.
Concordância de número
No plural por repetição do gesto; por ex. em /ÁRVORE/ e /ÁRVORES/; ou
No plural por redobro (ex. /PESSOA/ e /PESSOAS/); ou
No plural por incorporação do numeral, como em /LIVRO + CINCO/, ou por incorporação de determinativo, como em /LIVRO + MUITOS/.
A marcação do tempo verbal
A marcação do passado:
Pode ser feita pela adição dos gestos /PASSADO/ ou /ONTEM/ à forma do verbo neutro;
Passado longínquo: repetição sucessiva do gesto adicionado à forma neutra do gesto;
O acréscimo de repetições e afastamento do corpo aumentam a distância temporal;
A marcação do presente:
Pode ser feita pela simples utilização do verbo neutro; ou
Pode ser feita pela adição dos gestos /HOJE/ ou /AGORA/ à forma neutra do verbo;
A marcação do futuro:
Pode ser feita pela adição dos gestos /FUTURO/ ou /AMANHÃ/ à forma neutra do verbo;
Futuro longínquo: repetição sucessiva do gesto adicionado à forma neutra do verbo;
O acréscimo de repetições e afastamento do corpo aumentam a distancia temporal.
Em relação às outras questões que me colocou:
Para se saber quando terminou uma ideia e começou outra, há elementos na própria conversa, como a entoação, a expressão facial, uma pequena pausa, que nos indicam isso mesmo (tal como acontece numa conversa em português ou outra qualquer língua oral). Não existe um determinado gesto que indique essa mudança de ideia ou conversação.
Isto numa conversa em LGP, porque se se tratar de glosa (passar para um registo escrito com a estrutura da LGP - como fiz acima quando exemplifiquei a ordem dos gestos numa frase em LGP-), existem os símbolos / (que indica uma pequena pausa, o equivalente a uma vírgula) e o símbolo // (que indica o fim de uma frase, o equivalente a um ponto final).
Sobre a questão do sotaque, bem, cada país tem a sua própria língua gestual, derivado também a influência que a cultura da comunidade surda de cada país exerce na criação e desenvolvimento da sua própria língua gestual. Isto significa que, cada país tem um gesto diferente para as mesma ideias, conceitos, objectos, etc...
Os gestos diferirem de país para país não se trata de "sotaques" diferentes, mas sim de línguas gestuais diferentes, autónomas e independentes entre si (embora algumas, por razões histórias possam ter a mesma base, e, portanto, certas semelhanças nalguns gestos.)
A título de exemplo, se um surdo norte-americano, que utilize a ASL, faça o gesto «I love you» em ASL (comummente muito conhecido!), e não o gesto para a mesma expressão, mas em LGP (que é um gesto muito diferente), eu sei que esse surdo é americano, pois utiliza gestos da ASL.
A diferença está nos próprios gestos serem diferentes de língua gestual para língua gestual. Por aí se nota a nacionalidade e qual a língua gestual que esse indivíduo aprendeu e utiliza.
Ainda sobre sotaques, mesmo dentro do próprio país, na mesma língua gestual, existem gestos que variam de região para região (chamam-se regionalismos).
Em Portugal notam-se bastante esses regionalismos na LGP entre gestos do norte (por exemplo no Porto) e gestos do Sul (por exemplo, utilizados em Lisboa). Por vezes são gestos totalmente diferentes para o mesmo objecto/ideia/conceito; outras vezes são apenas pequenas diferenças (por exemplo, têm a mesma configuração da mão, mas realizam-se em zonas do corpo diferentes).
Esses regionalismos apenas acontecem nalguns gestos, não em todos; o essencial da LGP mantêm-se nas diferentes zonas do país.
A LGP tem a sua própria estrutura frásica, diferente da do português, por isso não se deve gestuar uma frase traduzindo palavra a palavra, tal e qual como esteja escrita em português, pois isso é fazer o que se chama de "português gestual" (gestos de LGP com estrutura frásica do português) e não verdadeiramente Língua Gestual Portuguesa (gestos da LGP com a estrutura frásica própria da LGP).
Para esclarecer a regras gerais de construção frásica da LGP:
No português a estrutura frásica é SVO (sujeito-verbo-objecto). Por ex, na frase "Eu comprei um livro." "eu" é o sujeito, "comprei" é o verbo, "um livro" é o objecto.
Na LGP a estrutura frásica predominante é: SOV (sujeito-objecto-verbo). O verbo aparece no infinitivo e no fim da frase. Por isso a frase que exemplifiquei ficaria "EU + LIVRO + COMPRAR//" Esta é a regra geral, para as frases afirmativas. Nalgumas situações também é aceitável a estrutura OSV (objecto-sujeito-verbo).
Para se realizar uma frase na negativa, dependendo da frase em específico, pode-se ou acrescentar o gesto /NÃO/ no fim da frase neutra; ou realizar-se simultaneamente a frase neutra e o movimento natural (da cabeça) referente a /NÃO/;
Para se realizar uma frase interrogativa pode utilizar-se um pronome interrogativo como “quando” ou “quem”, por ex, que frequentemente aparece em final de frase (ao contrário do português). Mesmo com o pronome interrogativo, a expressão facial interrogativa é muito importante.
A 2ª possibilidade da construção de uma frase interrogativa pode realizar-se através da frase afirmativa com a expressão interrogativa ao longo da frase. (esta situação também é válida para a construção de frases exclamativas – com a utilização da respectiva expressão facial exclamativa ao logo de toda a frase).
Outras questões gramaticais da LGP:
Quanto à concordância de género, número e marcação de tempo verbal:
A concordância do género:
Nos seres humanos:
Marca-se por um gesto diferente: por exemplo, no par /PAI/ e /MÃE/; ou
Marca-se o feminino por prefixação (Ex. /IRMÃO/ e/IRMÃ/);
Nos seres animados não humanos:
Marca-se por um gesto diferente (ex. /CARNEIRO/ e /OVELHA/); ou
Marca-se o feminino por prefixação (ex. /CÃO/ e /CADELA/); ou
Marca-se por sufixação (ex. /CABRA/ e /BODE/);
Os seres inanimados não apresentam marcação de género.
Concordância de número
No plural por repetição do gesto; por ex. em /ÁRVORE/ e /ÁRVORES/; ou
No plural por redobro (ex. /PESSOA/ e /PESSOAS/); ou
No plural por incorporação do numeral, como em /LIVRO + CINCO/, ou por incorporação de determinativo, como em /LIVRO + MUITOS/.
A marcação do tempo verbal
A marcação do passado:
Pode ser feita pela adição dos gestos /PASSADO/ ou /ONTEM/ à forma do verbo neutro;
Passado longínquo: repetição sucessiva do gesto adicionado à forma neutra do gesto;
O acréscimo de repetições e afastamento do corpo aumentam a distância temporal;
A marcação do presente:
Pode ser feita pela simples utilização do verbo neutro; ou
Pode ser feita pela adição dos gestos /HOJE/ ou /AGORA/ à forma neutra do verbo;
A marcação do futuro:
Pode ser feita pela adição dos gestos /FUTURO/ ou /AMANHÃ/ à forma neutra do verbo;
Futuro longínquo: repetição sucessiva do gesto adicionado à forma neutra do verbo;
O acréscimo de repetições e afastamento do corpo aumentam a distancia temporal.
Em relação às outras questões que me colocou:
Para se saber quando terminou uma ideia e começou outra, há elementos na própria conversa, como a entoação, a expressão facial, uma pequena pausa, que nos indicam isso mesmo (tal como acontece numa conversa em português ou outra qualquer língua oral). Não existe um determinado gesto que indique essa mudança de ideia ou conversação.
Isto numa conversa em LGP, porque se se tratar de glosa (passar para um registo escrito com a estrutura da LGP - como fiz acima quando exemplifiquei a ordem dos gestos numa frase em LGP-), existem os símbolos / (que indica uma pequena pausa, o equivalente a uma vírgula) e o símbolo // (que indica o fim de uma frase, o equivalente a um ponto final).
Sobre a questão do sotaque, bem, cada país tem a sua própria língua gestual, derivado também a influência que a cultura da comunidade surda de cada país exerce na criação e desenvolvimento da sua própria língua gestual. Isto significa que, cada país tem um gesto diferente para as mesma ideias, conceitos, objectos, etc...
Os gestos diferirem de país para país não se trata de "sotaques" diferentes, mas sim de línguas gestuais diferentes, autónomas e independentes entre si (embora algumas, por razões histórias possam ter a mesma base, e, portanto, certas semelhanças nalguns gestos.)
A título de exemplo, se um surdo norte-americano, que utilize a ASL, faça o gesto «I love you» em ASL (comummente muito conhecido!), e não o gesto para a mesma expressão, mas em LGP (que é um gesto muito diferente), eu sei que esse surdo é americano, pois utiliza gestos da ASL.
A diferença está nos próprios gestos serem diferentes de língua gestual para língua gestual. Por aí se nota a nacionalidade e qual a língua gestual que esse indivíduo aprendeu e utiliza.
Ainda sobre sotaques, mesmo dentro do próprio país, na mesma língua gestual, existem gestos que variam de região para região (chamam-se regionalismos).
Em Portugal notam-se bastante esses regionalismos na LGP entre gestos do norte (por exemplo no Porto) e gestos do Sul (por exemplo, utilizados em Lisboa). Por vezes são gestos totalmente diferentes para o mesmo objecto/ideia/conceito; outras vezes são apenas pequenas diferenças (por exemplo, têm a mesma configuração da mão, mas realizam-se em zonas do corpo diferentes).
Esses regionalismos apenas acontecem nalguns gestos, não em todos; o essencial da LGP mantêm-se nas diferentes zonas do país.
como a posso contactar. é muito urgente. e julgo que lhe pode interessar muito.
ResponderEliminarPode contactar-me através do meu e-mail: diana.lgp@gmail.com
ResponderEliminarOlá. Enviei-te uma mensagem privada no forum Exames.org, a colocar-te algumas questoes sobre o curso de LGP. Se puderes responder, agradeço :)
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