quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

21 de Janeiro - dia do intérprete de Lingua Gestual Portuguesa

Hoje, 21 de Janeiro comemora-se o Dia do Intérprete de Língua Gestual Portuguesa. :)

Uma profissão que conheço tão bem, (porque é a minha :)), mas tantas vezes menosprezada pelos outros, incompreendida, pelo menos quanto à sua importância e necessidade de existir. Por isso deixo-vos algumas palavras sobre esta profissão, que é também uma arte, e que constitui uma parte tão importante na minha vida, e na de toda a comunidade surda que beneficia com o meu trabalho e o dos meus/minhas colegas de profissão.

Os interpretes de Língua Gestual são "os profissionais que interpretam e traduzem a informação da língua gestual para a língua oral ou escrita e vice-versa e, de forma a assegurar a comunicação entre pessoas surdas e ouvintes" (artigo 2º da lei 89/99 de 5 de Julho).

Quer isto dizer que o intérprete de Língua Gestual (Portuguesa, ou outra), funciona como elo de ligação entre pessoas surdas e ouvintes, de modo a que, com o seu trabalho, a barreira de comunicação que existe entre os indivíduos destas duas comunidades, desapareça. É como uma "ponte", entre pessoas que utilizam línguas diferentes entre si, e que, sem a presença do intérprete, as falhas de comunicação daria aso a muitos mal-entendidos...

Claro que como profissão que é, está sujeita a regras. Possuímos um código de ética, e normas de conduta que qualquer profissional, mas mais especificamente o intérprete de uma língua gestual (portuguesa ou outra), deve seguir.

Algumas dessas normas de conduta são:

  • Confidencialidade/sigilo profissional: Naturalmente que todas as informações às quais temos acesso no exercer da nossa profissão enquanto intérpretes, somos obrigados ao sigilo profissional, seja em que contexto for. Só assim terá profissionalismo e credibilidade profissional.
  • flexibilidade/adaptabilidade: Como o trabalho de um intérprete é necessário em vários contextos (escola, hospital, tribunal, tv, conferências, celebração religiosa,formação profissional, etc., ... ), o intérprete deve poder adaptar-se a todas as situações em que é chamado a exercer o seu trabalho.
  • objectividade/imparcialidade: o intérprete deve manter um distanciamento profissional das situações nas quais é chamado, e das pessoas envolvidas. Os intervenientes são as pessoas surdas e ouvintes que querem ou precisam de estabelecer comunicação entre eles, naquele momento. O intérprete deve ser apenas a "ponte" de comunicação, e não se envolver nem intervir pessoalmente na situação, mantendo a distancia profissional e imparcialidade que a sua profissão exige.
  • atitude profissional: o intérprete nunca sabe tudo, até porque novos gestos estão sempre a ser criados, enquanto que outros caem em desuso. O intérprete deve por isso preocupar-se em frequentar acções de reciclagem de lgp, para se manter actualizado da própria evolução da lgp. Também é válido para a questão dos regionalismos de uma língua gestual. Nas diversas regiões do país utilizam-se alguns gestos que diferem de região para região. Assim sendo, cabe ao intérprete o se actualizar dos gestos da região onde está a trabalhar, especialmente se não for a sua região natal ou na qual tenha aprendido a língua gestual que utiliza. Cabe ao intérprete se adaptar aos gestos realizados na região onde está, assim como adaptar-se ao nível linguístico das pessoas envolvidas, pois, algumas pessoas surdas possuem níveis de vocabulário um tanto rudimentares ou básicos, seja em português ou lgp. São situações com que o intérprete é deparado e com as quais tem que lidar e adaptar-se ao nível linguístico dos intervenientes.
  • pontualidade e responsabilidade: normas de conduta abrangentes a todas as profissões, não sendo esta uma excepção. é importantíssimo que o interprete seja pontual. O seu atraso ou ausência prejudicam naturalmente as pessoas envolvidas na situação que seria necessário o trabalho do intérprete. Contudo, claro que o intérprete é, antes demais, uma pessoa, de carne e osso, e como tal, também está sujeita a motivos que causem a sua ausência, como doença, por exemplo. Em tais situações, deve-se assegurar um substituto, de modo a não prejudicar as pessoas envolvidas na situação de tradução.

Outras características essenciais a um intérprete:

  • espontaneidade de expressão facial e corporal, dado que a língua gestual necessita que a expressão acompanhe o gesto, até porque alguns gestos são parecidos ou até o mesmo gesto, e o que os diferencia são, para além do contexto, a expressão utilizada pelo gestuante.
  • Para garantir que nenhuma informação se perca nem fique deturpada, é importante que o intérprete tenha grande capacidade de concentração, memorização, treino auditivo e rápida compreensão dos discursos orais e gestuais.
  • Tendo em conta que o intérprete é chamado para exercer a sua função nas mais diversas situações e contextos, é essencial que desenvolva competências linguísticas e de cultura geral. é necessário que saiba "de tudo um pouco", para poder realizar uma melhor tradução, a mais fiel possível à mensagem a transmitir.

E como o dia é de festa, para toda a comunidade surda, nada melhor do que terminar este post com uma música, interpretada, por mim, em língua gestual portuguesa, claro está. :)